O Doc’s Kingdom regressa a Odemira de 19 a 23 de novembro de 2024, com um programa de filmes, debates, instalações, performances sonoras e sessões de escuta, entre outras atividades.
Sob o título “Formas de Escutar” (em inglês, “Ways of Listening”), com curadoria de Stoffel Debuysere, o programa pretende contrariar o tradicional foco na visualidade, desenvolvendo perspetivas críticas sobre o documentário a partir do prisma do som. A fim de imaginar e discutir as possibilidades e implicações políticas e éticas do sonoro, esta edição do Doc’s Kingdom será um espaço de estudo coletivo muito além do olhar: um espaço para ver, ouvir e redescobrir o cinema a partir da escuta.
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Expeditions é uma exposição de slides em duas partes, intitulada Signs of Empire e Images of Nationality (Sinais do Império e Imagens de Nacionalidade), na qual metáforas arqueológicas organizam uma investigação estetizada e ideológica. Com base em imagens de retratos coloniais, fotografias etnográficas e reportagem contemporânea, Black Audio utiliza-as como matéria-prima numa performance audiovisual coreografada. Sobre as imagens do passado estão inscritas frases filosóficas do presente. Entre as imagens do conflito presente, há “expedições” que se abrem a um passado visto através de formas de representação que iludem a violência das ordens com as quais são coniventes. Deste novo ângulo, os mapas tornam-se medidas de distância e de domínio, e os retratos plácidos assumem um carácter sinistro. Quando uma majestosa voz masculina afirma que os Negros “não sabem quem são ou o que são”, repetindo uma e outra vez, torna-se um símbolo gaguejante da incapacidade do próprio orador para compreender a identidade do Outro. Sons ambiente e vozes manipuladas (produzidas por Trevor Mathison) ressoam com força, desenterrando os significados estruturais profundos que unem os signos.
Expeditions é um documento decididamente antirrealista; em vez disso, os seus criadores debatem-se com todos os meios formais possíveis para alcançar uma visão tanto poeticamente alusiva como lucidamente interpretativa. (Coco Fusco)
No seu último filme sonoramente impressionante, What About China, Minh-ha utiliza imagens filmadas em Hi8 na China rural em 1993-1994, reenquadrando-as trinta anos mais tarde: primeiro contra as representações, histórias e futuros contraditórios da China, e segundo através do processo de conversão de vídeo para digital, onde a transformação de imagens de baixa resolução cria animações fantasmagóricas numa tela de mudança multigeracional. A pulsar à superfície desta investigação está uma teoria de harmónicos que toma a Hakka Roundhouse – uma habitação multifamiliar circular ligada por áreas comuns no centro – como o seu nexo. Trinh T. Minh-ha encontra nesta arquitetura, nos materiais que utiliza para compor o seu filme e nas imagens convertidas de vídeo para digital, uma rede de passagens: entre a sociedade e a natureza, o eu e o outro, a paisagem e o interior.
Em 1961, o cineasta Robert Gardner organizou a Expedição Harvard Peabody à Nova Guiné Holandesa (atual Papua Ocidental). Financiada pelo governo colonial holandês e por donativos privados, e constituída por vários dos membros mais abastados da sociedade americana, com câmaras de filmar 16 mm, câmaras fotográficas, gravadores de cassete e um microfone, a expedição instalou-se durante cinco meses no vale de Baliem, entre o povo Hubula (também conhecido como Dani). A expedição resultou no filme altamente influente de Gardner, Dead Birds, em dois livros de fotografias, no livro de Peter Matthiessen, Under the Mountain Wall, e em duas monografias etnográficas. Michael Rockefeller, um membro da quarta geração da família Rockefeller (Standard Oil), foi incumbido de tirar fotografias e gravar sons no mundo Hubula e nos seus arredores.
Expedition Content é uma obra sonora aumentada para cinema, composta a partir das 37 horas de fita do arquivo que documentam o estranho encontro entre a expedição e o povo Hubula. A peça reflecte sobre momentos históricos complexos e interligados no desenvolvimento de abordagens à antropologia multimodal, nas vidas dos Hubula e de Michael, e na história contínua do colonialismo na Papua Ocidental.
A Expedição Peabody de Harvard de Robert Gardner à Nova Guiné Holandesa resultou num dos seus filmes mais visionados, discutidos e debatidos, a longa-metragem Dead Birds (1964). Nos últimos anos da sua vida, começou também a editar mais de uma dúzia de curtas-metragens extraídas das horas de filmagens acumuladas durante esta expedição. Após a sua morte, o espólio de Gardner iniciou um projeto para completar e apresentar estas pequenas obras. Olivia Wyatt foi encarregada de completar a montagem das peças de Gardner e Ernst Karel foi contratado para construir bandas sonoras para os filmes, utilizando as gravações de som feitas por Michael Rockefeller durante a expedição. Foi este projeto que levou Karel a passar horas a estudar as gravações de Rockefeller, um processo que acabou por inspirar a colaboração de Karel e Veronika Kusumaryati’s Expedition Content. Com uma duração que varia entre 2 e 20 minutos, e focando maioritariamente uma faceta específica da cultura Hubula (como o processo de recolha de sal, a construção de um kaio, a criação de porcos), estes filmes são mais parecidos com breves esboços. As bandas sonoras de Karel utilizam habilmente e de forma discreta as cassetes de Rockefeller para reproduzir os sons evocativos da vida Hubula, ao mesmo tempo que fazem referência às pessoas e aos processos da expedição através dos quais os elementos visuais e auditivos foram criados. (AFA)
Reassemblage é o primeiro filme em 16mm de Trinh T. Minh-ha, realizado após a sua passagem de três anos (1977-80) no Senegal, onde ensinou música no Institut National des Arts em Dakar. Foi durante esta temporada que se apercebeu da hegemonia do discurso antropológico em qualquer tentativa, tanto por parte de estrangeiros como de residentes, de identificar e captar a cultura observada. Este filme é uma resposta à urgência que sentiu em questionar o aparelho antropológico, as suas construções essencializadoras e o seu ethos colonial. Isto implicou também um questionamento da sua própria posição como “insider híbrido”, como alguém que partilha uma certa experiência do colonialismo mas que, ao mesmo tempo, não é menos considerado um outsider do que qualquer europeu.
Acima de tudo, o filme é uma resposta a um desejo de “não significar simplesmente”; um desejo
de não abordar a cultura senegalesa envolvendo-a em construções redutoras de significado. Minh-ha subverte as convenções da representação cinematográfica, jogando com a repetição, o som não síncrono e o trabalho de câmara instável que perturbam a continuidade temporal e espacial e convidam os espectadores/ouvintes a assumir a sua própria relação com o mundo que aparece no ecrã.
Uma exploração cinemática de Londres como espaço simbólico e também cívico, representando ideais de prosperidade e esperança de um recomeço, e contrastando-os com a realidade do acolhimento austero prestado a muitos migrantes. Em 1989, o governo conservador estava a três anos de um programa de criação de riqueza e de renovação urbana sem paralelo na Grã-Bretanha do século XX. O terceiro trabalho do Black Audio Film Collective, Twilight City, pode ser visto como o primeiro filme-ensaio a mapear a nova Londres através de uma escavação das Docklands, da City, de Limehouse e da Isle of Dogs. No seu movimento entre a imagem de arquivo, o guião ficcional, a entrevista em estúdio, o quadro fotográfico e os planos longos em travelling, Londres é reimaginada como uma cidade nocturna de luz e vidro, rodeada por uma paisagem de sonhos, sequenciada pela evocativa partitura eletrónica de Trevor Mathison.
48 constitui um paradigma na abordagem de Sousa Dias. Examinando a história e a memória da repressão política, da tortura e resistência durante os quarenta e oito anos do Estado Novo — o regime ditatorial fascista, colonial e corporativo iniciado sete anos antes do golpe de Estado militar de 1926 — o filme reapropria fotografias antropométricas de presos políticos — vítimas de tortura — olhando e confrontando o espectador com os seus testemunhos dados cinquenta anos após os acontecimentos relatados, para entrelaçar passado e presente e apontar para o trauma.
O formalismo rigoroso de 48 recria, desta forma, a biopolítica do fascismo através ao reencenar sensorialmente a experiência histórica opressiva dos presos políticos através da tensão entre elementos visuais e sonoros, uma estratégia que, tratando os arquivos nos seus itinerários materiais, ideológicos e culturais, leva à sua profanação e agenciamento.
(Raquel Schefer)
Fordlândia Malaise é um filme sobre a memória e o presente de Fordlândia, a cidade-empresa fundada por Henry Ford na floresta Amazónica em 1928. O seu objetivo era quebrar o monopólio britânico da borracha e produzir este material no Brasil para a sua produção automóvel nos Estados Unidos.
Hoje, os restos de construção atestam o tamanho do fracasso dessa empreitada neocolonialista que durou menos de uma década. Atualmente, Fordlândia é um espaço suspenso entre os tempos, entre os séculos XX e XXI, entre a utopia e a distopia, entre a visibilidade e a invisibilidade: edifícios arquitectónicos de aço, vidro e alvenaria ainda permanecem em uso, enquanto os vestígios da vida indígena não deixaram marcas no chão. Embora a Fordlândia seja conhecida devido ao breve período fordiano, não se deve esquecer a história anterior e posterior. Dando voz aos habitantes que reivindicam o direito de escrever a sua própria história e rejeitam o rótulo de cidade fantasma, Fordlândia Malaise mistura imagens de arquivo, imagens de drones, contos e narrativas, mitos e canções.
Depois de fazer o filme Fordlândia Malaise, regressei a Fordlândia duas vezes. Durante a minha última estadia, deparei-me com uma descoberta – feita acidentalmente por trabalhadores locais – de artefactos indígenas por baixo da própria fábrica fordista. À medida que estes objectos emergiam da terra, memórias antigas começaram também a emergir.
Em outubro de 1985, a Grã-Bretanha assistiu a uma série de desordens civis no distrito de Handsworth, em Birmingham, e em centros urbanos de Londres. Foram acontecimentos violentos e trágicos, marcados pela morte de uma mulher negra idosa, Joy Gardner, e de um polícia branco, Keith Blakelock. Handsworth Songs toma como ponto de partida estes acontecimentos e a incapacidade dos meios de comunicação social britânicos de irem além da sua preocupação em demonizar ou racionalizar os desordeiros e os seus motivos, para quebrar o ciclo ansioso de respostas mórbidas à presença de negros na Grã-Bretanha.
Handsworth Songs explora a ideia de que os motins representaram menos um drama de raiva autónomo, com uma única origem e trajetória, do que uma multiplicidade de questões, ambivalências, relacionadas com a raça, a saudade e a pertença – nem todas elas passíveis de serem sustentadas pelo recurso a uma retórica de desordem civil. O sentido de multiplicidade do filme estende-se a um repensar da presença negra britânica e a uma refutação da ideia de uma comunidade negra homogénea com um sentido único de presença caracterizado pela uniformidade de ambição e expressão. Em vez disso, o filme evoca uma vasta gama de vozes, tons e registos.
O som está por toda a parte. Existe em tantas escalas que, por vezes, é difícil alcançá-lo. As suas energias entrelaçam-se com os sistemas mais amplos de uma cidade, extravasando fronteiras e passando através dos limites considerados por nós. Muitas destas intersecções energéticas são percetíveis para os humanos. Mesmo os espaços que consideramos calmos estão, de facto, extremamente preenchidos, cheios de ação e energia.
Para produzir Vanishing Points, documentei a forma como alguns destes fluxos urbanos se cruzam com os meus movimentos do dia-a-dia, e como eu também contribuo para eles ao gravar o espaço quieto da minha casa enquanto eu como e trabalho; o caminho calmo rodeado pelas árvores na antiga linha ferroviária onde corro frequentemente; os comboios agitados enquanto me desloco pelo sudoeste de Inglaterra; as linhas de metro sobrelotadas de Londres; e o fluxo denso de pessoas e trânsito nos meios urbanos de Brixton e Bristol. à medida que percorro estes espaços pelas gravações estéreo e eletromagnéticas, torna-se claro como os cenários do quotidiano estão repletos de vida e atividade, muito mais do que ousamos imaginar.
O sujeito desta peça é um componente-chave do ciclo global da água: os enormes fluxos de vapor de água concentrado que fluem pelo céu dos trópicos em direção aos pólos, libertando chuvas intensas com ventos fortes, particularmente no oeste dos EUA, e que se prevê que aumentem de frequência e intensidade com as alterações climáticas. Executada em quad, a peça consiste em gravações estéreo e multicanal não processadas de rios atmosféricos, feitas ao longo dos últimos anos, à medida que passam pela nossa casa na costa rochosa do norte da Califórnia.
Entre 2011 e 2013, uma série de assaltos intrigantes ocorreram no sul da Califórnia: desapareceram tubas de uma dúzia de escolas secundárias. Este filme de estreia, que desafia géneros, foi impulsionado por esses eventos. Imaginando como uma banda iria soar sem o seu som mais profundo, a artista visual e cineasta Alison O’Daniel, que se identifica como d/Deaf*, questiona o que significa ouvir. O filme navega por histórias que misturam o documentário, narrativa e reencenação — uma centrada numa baterista Deaf que interpreta uma versão ficcionalizada de sim mesma, outra que segue as comunidades de estudantes que lidam com o roubo — com interpretações engenhosas de concertos históricos, desde o 4’33” de John Cage até ao último concerto punk no Deaf Club de São Francisco (organizado pelo cineasta e artista Bruce Conner), intercaladas ao longo do filme.
Uma narrativa contada através do som e da sua ausência, The Tuba Thives acolhe a possibilidade de incompreensão e delay numa meditação de acesso de perda. Proporcionando uma experiência raramente antes vista — ou ouvida — em Los Angeles, e incorporando legendas abertas como um espaço narrativo rico, O’Daniel estimula profundamente a que o público (ouvinte) sintonize de forma diferente com a sua obra.
*o “d” minúsculo em deaf significa a condição física de ter perda de audição e foca-se no aspeto audiológico. Pessoas que se utilizem a terminologia em minúsculo nem sempre têm a maior conexão à comunidade surda e nem sempre utilizam língua gestua. Deaf com “D” maiúsculo representa uma identidade social e cultural, referindo-se a uma comunidade que partilha uma língua comum (geralmente a língua gestual), as experiências e normas sociais.
Naked Spaces – Living is Round é um filme sobre a poética da habitação e a relação entre as casas e o cosmos em África Ocidental. É explorado o ritmo e o ritual da vida nos meios rurais de seis países da região (Senegal, Mauritânia, Togo, Mali, Burkina Faso, e Benin) através de uma estrutura não linear que desafia as tradições do cinema etnográfico. Para Minh-ha, a questão do cinema e da luz é primordial em Naked Spaces. A habitação é simultaneamente material e imaterial; convida ao volume e à forma, bem como reflete uma cosmologia e formas de viver a criatividade. Por outras palavras, lidar com a arquitetura é lidar com a noção de luz no espaço. Lidar com a noção de luz no espaço é lidar com cor, e lidar com color é lidar com música, porque a questão da luz no cinema também é, entre outras coisas, uma questão de tempo e ritmo. A relação trabalhada pela realizadora entre a cor e a luz foi também a ligação que ela desenhou entre arquitetura, música e cinema. As conexões que determinam a estrutura do filme são as que ela mesma experienciou nos espaços de vida das pessoas envolvidas. A obra reflete a capacidade de Minh-ha para refletir criticamente tanto as estruturas cinematográficas como o seu próprio olhar. A narração tipicamente providenciada pela cultura e autoridade, aqui é substituída por três vozes femininas com sotaques distintos a falar inglês, cada uma das quais com uma abordagem diferente à documentação da realidade, penetrando as imagens em diferentes ângulos.
Situado no sudoeste do Irão, na província de Khuzestan e na fronteira com o Iraque, Meezan (Escala) é uma experiência observacional e imersiva, uma viagem do mar para a terra, sobre o trabalho nas margens do petro-capitalismo em três capítulos.
Partindo da costa de Abadan, a primeira cidade petrolífera do Médio Oriente, segue um grupo de pescadores árabes que exemplificam as realidades da manutenção de formas intergeracionais de vida e de trabalho no mar. Os homens conduzem-nos ao porto de Bahrakan, onde trocam a sua parte da pescaria. O que é atualmente um ponto de encontro para a venda de peixe foi antes um local de migração árdua para refugiados que fugiam de Abadan após as destruições em massa da guerra Irão-Iraque na década de 1980. Meezan encerra numa fábrica de transformação de camarão, isolada nos arredores de Abadan, onde as mulheres que vêm das aldeias periféricas descascam e descascam camarão desenfreadamente, na sua própria corrida pelo salário.
“Morning and Other Times é uma composição sonora multicanal que foi gravada na cidade de Chiang Mai, Tailândia, durante quatro semanas no início de 2014 – alguns meses antes do golpe militar que levou à ditadura do General Prayuth. A peça atende à natureza multidimensional da cidade, não apenas em termos de multiplicidade humana, mas também a forma como é habitada por seres de diferentes espécies, pelo que a peça toma como ponto de partida as vozes de participantes não humanos no ambiente urbano. Num caso recorrente, o dos cães, as vozes estão literalmente em diálogo com aspectos religiosos e políticos audíveis da vida na cidade: nomeadamente o toque dos sinos nos templos (que são locais que abrigam os cães de rua) e os toques de corneta que emanam de um centro de treino militar nos arredores da cidade. A peça também se baseia em ouvir, em escutar, de modo a transmitir algo do seu ambiente através do que é revelado em segundo plano. Por exemplo, quando estava a rever as minhas gravações, alguns meses depois de as ter feito, descobri que tinha gravado mais do que uma vez, inadvertidamente, o hino nacional tailandês a ser transmitido algures ao longe; incluí-los nesta peça contribui para o tema de um fundo generalizado de nacionalismo e militarismo”. (EK)
Materials Recovery Facility foi construída com gravações de locais nas instalações da empresa de resíduos Casella Waste Systems em Charlestown, Massachusetts, EUA. É aqui que os materiais recicláveis misturados (“fluxo único”) recolhidos por vários municípios e instituições circundantes são levados para a triagem. A instalação utiliza enormes tapetes rolantes sobrepostos e métodos de triagem automatizados, incluindo sensores ópticos, jactos de ar comprimido dirigidos com precisão e ímanes. Mas as máquinas não funcionam tão eficazmente como esperado, pelo que uma grande equipa de trabalhadores humanos faz a maior parte da separação manualmente. Esta peça áudio autónoma também serviu de base para a obra audiovisual Single Stream (2013), realizada com Paweł Wojtasik e Toby Lee. Para esta ocasião, Ernst Karel edita uma nova versão iterativa.
Assistentes: Patrícia Santos Herdeiro, Luisa Gago, Kátia Lisa
Instituto do Cinema e do Audiovisual
Câmara Municipal de Odemira
Portugal Film Commission
Quinta do Chocalhinho
Arbutus
Cinema Fulgor
COde – Centro do Conhecimento de Odemira
Cultivamos Cultura
Mirabolante Livraria Café
Escola das Artes - Universidade Católica Portuguesa - Esta parceria é financiada por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito dos projetos UIDB/0622/2020 e UIDP/0622/2020
Kask & Conservatory School of Arts Gent - in association with the research project Echoes of Dissent (KASK & Conservatory School of Arts Gent)
ECAM - Escuela de Cinematografía y del Audiovisual de la Comunidad de Madrid / Caimán Cuadernos de Cine
Elías Querejeta Zine Eskola
COde
Cultivamos Cultura
Arsenal, Batalha Centro de Cinema, Casa-Atelier Vieira da Silva, Chocolates Beatriz, Light Cone, Lisson Gallery, LUX, Smoking Dogs Films (John Akomfrah, Lina Gopaul, David Lawson), Mulheres Trabalhadoras da Imagem em Movimento (MUTIM), Monte do Verdelho (Cá do Monte), Restaurante o Tarro, Restaurante Escondidinho, Royal College of Art
Alison O’Daniel é uma artista visual e cineasta que trabalha com som, imagem em movimento, escultura, instalação e performance, cujo trabalho é gerado a partir de um profundo envolvimento com sonoridade, acústica, acesso e incorporação complexa. Informada pelas suas experiências como surda/com deficiências auditivas e colaborações com outras pessoas no espectro de surdez – incluindo compositores, atletas, músicos e atores – Alison constrói um vocabulário visual, auditivo e háptico que revela uma política de som que excede o auditivo. O seu filme mais recente e multipremiado, The Tuba Thieves (2023), usa roubos de tuba na vida real em Los Angeles como um trampolim para explorar criticamente como a história das segregações sonoras está profundamente enraizada nos espaços urbanos por meio do design e da mediação do som, como o som viaja através desses substratos e quem está autorizado ou obrigado a ouvi-lo. Ela é professora assistente de cinema no California College of the Arts, em São Francisco.
Ernst Karel trabalha com som, incluindo música eletroacústica, obras sonoras experimentais de não-ficção para instalação e performance multicanal, colaboração imagem-som e pós-produção sonora para filmes e vídeos de não-ficção, com ênfase em cinema observacional. Ele trabalhou ao lado de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel no Laboratório de Etnografia Sensorial de Harvard e colaborou com artistas e cineastas como Anocha Suwichakornpong, J.P. Sniadecki, Luke Fowler, Ben Rivers e Helen Mirra. Como improvisador tocou e gravou com Fred Lonberg-Holm, Tim Daisy, Liz Payne e Aram Shelton entre outros, e com Kyle Bruckmann forma o grupo EKG. Ultimamente, trabalha em torno da prática de gravação de atualidade/lugar (ou ‘gravação de campos [plural]’) e da composição a partir dessas gravações, com projetos recentes também adotando gravações de arquivo de lugares. Ele ensinou gravação e composição de áudio no Laboratório de Etnografia Sensorial, no Centro de Etnografia Experimental da Penn e no Departamento de Cinema e Mídia da UC Berkeley. Atualmente é afiliado no Center for Ethnographic Media Arts da University of Southern California.
Matilde Meireles é uma artista sonora e pesquisadora que utiliza gravações de campo para compor projetos orientados para um local (site-oriented). O seu trabalho tem uma abordagem crítica multissensorial, duracional e multiperspectiva do local, onde Matilde investiga o potencial da escuta através de espectros e escalas como formas de sintonizar vários ecossistemas e articular experiências plurais do mundo. Alguns exemplos incluem as arquiteturas internas das canas e as complexas ecologias da água, ressonâncias em objetos do quotidiano, bairros locais e a arquitetura dos sinais de rádio. O seu próximo álbum pelo selo Crónica, intitulado Loop. And Again. (2024), investiga a dinâmica dos campos magnéticos, os intrincados arranjos de cabos elétricos e a sua interconexão com as mudanças na paisagem circundante. O seu trabalho também é regularmente apresentado sob a forma de performances, instalações, projetos comunitários e publicações. Ela possui um PhD em Sonic Arts pelo SARC: Centre for Interdisciplinary Research in Sound and Music, Queen’s University Belfast.
Susana de Sousa Dias é uma cineasta e artista portuguesa. As suas instalações exploram a dialética da história e da memória, questionando regimes de visibilidade estabelecidos com foco no arquivo. Utilizando fotografias e imagens de arquivo, os seus primeiros trabalhos (2000-2017) tratam da memória da ditadura em Portugal. Através de depoimentos de presos políticos, e resultante de extensa pesquisa nos arquivos nacionais, o seu trabalho desempenhou um papel importante na denúncia pública da repressão violenta e da tortura utilizada pelo regime. Mais recentemente, dirigiu Fordlandia Malaise, em 2019, e co-dirigiu Viagem ao Sol, com Ansgar Schaefer, em 2021. Colabora frequentemente com o irmão António de Sousa Dias, compositor e artista, na criação da banda sonora dos seus filmes. O seu trabalho recebeu inúmeros prémios e foi apresentado em todo o mundo. Em 2012, criou um coletivo feminino que dirigiu o Doclisboa durante duas edições, estabelecendo novas secções como Cinema de Urgência e Passagens (Documentário & Arte Contemporânea). Ela é cofundadora da produtora Kintop. É doutorada em Belas Artes-Vídeo e leciona na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Trevor Mathison é artista, compositor, designer de som e técnico de gravação. A sua prática sonora – centrada na criação de paisagens auditivas fragmentadas e perturbadoras, e na integração de música existente – apareceu em mais de trinta filmes e instalações premiadas. Trevor foi membro fundador do coletivo de artistas cineculturais The Black Audio Film Collective (1982 -1998), onde os seus designs sonoros definiram e situaram as obras audiovisuais do Coletivo, incluindo Signs of Empire (1983), Handsworth Songs (1986) e O Último Anjo da História (1996). Ele continuou a trabalhar com alguns dos seus ex-colaboradores do BAFC (John Akomfrah, Lina Gopaul e David Lawson) fazendo design de som para vários documentários e instalações. Com Anna Piva e Edward George, formou os projetos “Flow Motion” e “Hallucinator”, cujo techno dub mutante teve destaque na editora discográfica de referência Chain Reaction. Nos últimos anos, Trevor produziu uma série de obras de arte e lançamentos de álbuns como parte do projeto contínuo e iterativo From Signal to Decay.
Gary Stewart é um artista interdisciplinar que trabalha na interseção entre som, imagem em movimento e criatividade computacional. O seu trabalho evoca questões sociais e políticas de identidade, cultura e tecnologia. Através do uso de tecnologias e práticas inovadoras, faz parte de uma rede global de colaboradores que defendem a igualdade, a justiça climática e uma melhor saúde através das artes, especialmente aqueles de comunidades marginalizadas. Operando através de uma série de enquadramentos teóricos, ficcionais e artísticos, o seu trabalho atravessa a arte mediática, a música experimental e a investigação. Sob o apelido de Bantu, Gary propõe-se a explorar e trazer novas perspectivas e, em particular, para “Black Noise”. O recente lançamento de Bantu, Instabilidade (2024), baseia-se tanto na experiência pessoal quanto no trauma coletivo – o de uma diáspora submetida aos rigores de um “ambiente hostil” prolongado. Como Dubmorphology, Trevor Mathison e Gary Stewart criam instalações e performances que incorporam elementos de dub e música concreta que funcionam como um agente de ligação para materiais visuais díspares que são unidos pelo que pode ser chamado de “ruído pós-soul”.
Trinh T. Minh-ha é escritora, teórica, compositora e cineasta cuja prática se posiciona principalmente nos campos dos estudos feministas e pós-coloniais. Nascida em Hanói, emigrou para os EUA durante a Guerra do Vietname, onde estudou composição musical, etnomusicologia e literatura francesa. Enquanto lecionava em Dakar, no Senegal, criou o seu primeiro filme, Reassemblage (1982), que documenta a vida das mulheres na zona rural do Senegal de uma forma que ela descreveu como “speaking nearby” em vez de “speaking about” os sujeitos que retrata (pode traduzir-se como “falar aproximadamente” em vez de “falar sobre”). Tem desafiado consistentemente o formato documental tradicional e tem desconstruído formas normativas de olhar e ouvir diferentes culturas, ao mesmo tempo que se dedica a questionar sistemas totalizantes de conhecimento e categorias de identidade. Ela considera que cada obra existe como um “evento de fronteira”, fugindo de rótulos como documentário, ficção ou filme experimental, posicionando o seu trabalho entre essas designações. Paralelamente a obras audiovisuais, publicou numerosos ensaios e livros sobre cinema, política cultural, feminismo e artes. É professora de retórica e de estudos de género e mulheres na Universidade da Califórnia, Berkeley.