De 1 a 6 de setembro, com a presença de Mariana Caló e Francisco Queimadela, Alexandra Cuesta, Paula Gaitán, Boris Lehman e João Vieira Torres, o Doc’s Kingdom 2022 reúne gestos e fragmentos de viagens, encontros, pessoas, lugares, despedidas, rastos e pistas de revoluções – à volta do sol ou na dobra da história, como aconteceu em Portugal há pouco mais de 48 anos. Na duração de um plano, entre gestos e fragmentos, da linha à trama, do círculo à espiral, a procura de um sentido no tempo e no movimento desenha-se em configurações provisórias e perguntas abertas, mais do que em leituras definitivas.
Programado por Amarante Abramovici e Nuno Lisboa, o Doc’s Kingdom 2022 apresenta cerca de 15 sessões surpresa seguidas de debates abertos à comunidade de 100 participantes anualmente renovada em Arcos de Valdevez.
O seminário Doc’s Kingdom é um lugar de encontro concebido como uma experiência imersiva e integral, com três sessões de cinema por dia a partir das 10h, um programa secreto até ao início de cada projecção, debates ao ar livre com e entre cineastas, refeições de convívio, passeios e mergulhos no Rio Vez.
Uma criança amassa pão com uma suavidade natural. Ocorre uma transferência entre o alimento primário e sua natureza alegórica.
Entre vozes, imagem e música, Paula Gaitán inflecte a passagem do preto e branco à cor evocando Eliane Radigue e Matana Roberts. O diálogo “instiga”, sem, contudo, aguardar uma réplica. O filme de Gaitán é um estudo sobre a própria ideia de som, a partir da obra do músico Arto Lindsay e da relação do corpo e da câmara com a música. Aborda e reflecte sobre a arte e a prática artística, com o mesmo ritmo lírico e ímpeto do trabalho de Lindsey e da sua Danelectro.
Documentário experimental, poema visual sobre o encontro com uma cidade que não vemos, mas que se faz presente através dos seus sons e das marcas térmicas do corpo cartografado de um de seus habitantes.
O filme explora a memória e a ideia colectiva de domicílio. Filmado em Jackson Heights, um bairro de imigrantes em Queens, Nova-Iorque, com UMA população predominantemente latino-americana – é onde reside a maior comunidade de cidadãos equatorianos em solo estrangeiro.
Uma sinfonia urbana de Los Angeles. O filme explora a invisibilidade dos passageiros de autocarro numa cultura massiva e automobilística citadina. Isolamento, rotina e esplendor quotidiano criam o pano de fundo da viagem, enquanto o som intermitente dos carros constrói a paisagem sonora.
Filmado em Boyle Heights, leste de Los Angeles, este bairro transitório repercute a poesia do morador Mapkaulu Roger Nduku. Versos sobre finais, olhar e passagem abrem o espaço projectado. Uma série de quadros reúne um retrato de lugar e uma carta de despedida a um lar efémero.
Leite a jorrar em olhos abertos, detalhes de pedras ou telheiras, ou até afagos em cães. Francisco Queimadela e Mariana Caló inventam um mundo idiossincrático, mas hipnótico.
O filme tece uma trama densa de enredos, cronologias e localizações entremeados com cosmologias indígenas, diários de viagem e escritos antropológicos. Acompanha um jovem de origem indígena em viagem rio acima através da selva brasileira a caminho de uma aldeia e um grupo de colonos europeus também em viagem rio acima, recolhendo, tomando posse e procurando uma posição de onde sondar a floresta e o rio. As duas narrativas distam cerca de 150 anos. Um tributo à vegetação abundante da região amazónica, aos bosques da Nova Inglaterra no Inverno e às populações indígenas das duas Américas.
Filmar um ritual de uma tribo da Amazónia aberto a forasteiros é aceitar que apenas vemos o que nos mostram e o que somos capazes de ver. Assim é Toré.
O filme apresenta sete reminiscências de infância, enquanto a câmara se aproxima dos tons esbatidos e no grão exagerado das fotografias de família do início dos anos 1980. O filme desafia o público a colocar questões de género, memória, performance e morte.
Inspirado nos diários de viagem de Henri Michaux, poeta vanguardista belga, aquando da sua ida ao Equador em 1926. O filme explora as várias geografias do país. A viagem começa no oceano, atravessa as montanhas e desce para a selva, construindo uma experiência temporal enquanto pensa a geografia como real e imaginária.
Diário intimista e um autorretrato, este filme é também, nas palavras do próprio realizador, “a minha vida transformada em argumento para um filme que se tornou ao mesmo tempo a minha vida”. Boris Lehman mais uma vez vagueia pela sua cidade natal e encontra-se com amigos, enquanto planeia uma viagem para sondar ideias para um possível filme seguindo os passos de Antonin Artaud na terra do povo Tarahumara no México. Parte em viagem e regressa. Continua continua a deambular. Quase de certeza porque, como o próprio afirma, filma enquanto espera para filmar. O resultado é um filme em processo de ser um filme sobre um personagem da vida real que vive a vida como um filme
Diário intimista e um autorretrato, este filme é também, nas palavras do próprio realizador, “a minha vida transformada em argumento para um filme que se tornou ao mesmo tempo a minha vida”. Boris Lehman mais uma vez vagueia pela sua cidade natal e encontra-se com amigos, enquanto planeia uma viagem para sondar ideias para um possível filme seguindo os passos de Antonin Artaud na terra do povo Tarahumara no México. Parte em viagem e regressa. Continua continua a deambular. Quase de certeza porque, como o próprio afirma, filma enquanto espera para filmar. O resultado é um filme em processo de ser um filme sobre um personagem da vida real que vive a vida como um filme
Uma viagem sensorial, entre o documental e a imaginação. Um encontro com a natureza, o afecto, o movimento de um círculo familiar. Corpos, natureza, flores, animais, a luz e a noite, acordam uma narrativa de desejo e sonho.
Em Memória da Memória, Paula Gaitán propõe um filme em forma de ensaio, a partir de trabalho em Super 8, construindo assim uma narrativa sobre sua juventude enquanto conversa com os filhos.
Uma cidade estrangeira, o ambiente da cineasta, o quotidiano. Um acumular de instâncias experienciais que descrevem habitar uma paisagem pós-industrial, o fim de uma história de amor e a política do privado e do público.
Uma cidade estrangeira, o ambiente da cineasta, o quotidiano. Um acumular de instâncias experienciais que descrevem habitar uma paisagem pós-industrial, o fim de uma história de amor e a política do privado e do público.
Uma tarde com o músico, compositor, poeta, sociólogo e pensador Negro Leo. Ele expressa as suas ideias sobre o desenvolvimento da música bem como sobre a política brasileira e internacional, a ascensão das religiões neopentecostais e a sua obsessão pelas redes sociais, fazendo um paralelo com a sua própria vida.
Em Nanook of the North, precursor do documentário moderno, o cineasta Robert J. Flaherty acompanha durante um ano a vida de Nanook e da sua família, inuits que habitam o Círculo Polar Ártico. O filme descreve o comércio, a caça, a pesca e as migrações de um grupo pouco acometido pela tecnologia industrial. Nanook of the North foi amplamente exibido e elogiado como sendo o primeiro documentário antropológico de longa duração na história do cinema.
Uma curta-metragem nascida de uma residência artística. Através da manipulação de imagens e sons de exposições, catálogos e conversas, monta-se uma linguagem experimental e mediúnica, procurando estabelecer uma recombinação de tempos, contextos e origens.
Uma viagem num país estrangeiro começa com uma câmara de mão olhando pela janela de um carro. Gotas de chuva no vidro abstraem a paisagem urbana. Guiados pela fragmentação, vemos espelhos, reflexos e sombras. A iminência do perigo é ao mesmo tempo palpável e distante.
Percurso da autora Paula Gaitán pelas ruas de São Paulo, enquanto grava as suas canções e invenções sonoras enquanto caminha.
Ao fazer do filme uma plataforma de intervenção dentro de uma exposição, ecoando uma questão específica, a questão vai gradualmente ultrapassando os limites da exposição e do próprio filme. Resta saber quem está interessado na resposta.
Magnum Begynasium Bruxelense é uma crónica viva dos habitantes da área de Béguinage em Bruxelas. Concebido como inventário enciclopédico, o filme é composto por cerca de 30 capítulos interligados como se fossem peças de um puzzle. Desenrola-se entre espaços e fissuras, nos interstícios de um dia, começando ao amanhecer e terminando à noite.
Uma caixa com oitenta e três slides que pertencia ao poeta, cineasta e pedagogo António Reis. Dentro desta caixa, o gesto de escolher e ordenar.
Deste encontro com os slides, nasce um gesto de procura. Pequenos fios que vão crescendo à sua volta. Dos slides, voltamos à terra recolhida em Trás-os-Montes, terra de Margarida Cordeiro. À água recolhida no Barco, terra de Jaime Fernandes. Levam-nos de volta à matéria – a constante procura do sentido através da matéria.
Situado em Susudel, uma aldeia em extinção no sul do Equador,o filme acompanha duas mulheres de diferentes gerações; a viúva idosa Luz e a adolescente Nataly.
Filme-ensaio em torno de uma hipotética história do trabalho manual. Inspira-se numa série de testemunhos recolhidos sobre atividades laborais e lúdicas, algumas vernaculares e outras no âmbito de ciências como a matemática ou a geometria. É uma montagem de fragmentos de ações quotidianas através da qual o espectador estabelece relações entre experiências sensoriais e pensamento, reconhecendo um sentido comum em universos tão distintos quanto a ciência e a magia.
Robert Kramer aceita o desafio de Boris Lehman e diz-lhe o que pensa do seu cinema.
“Ensaio sobre os Militares e o Poder”, a frase que completa o título “Gestos e Fragmentos”, resume o espírito do filme, onde se cruzam três pontos de vista sobre o mesmo tema: Otelo Saraiva de Carvalho e Eduardo Lourenço, nos seus próprios papéis, e a personagem interpretada por Robert Kramer – um jornalista americano determinado a perceber a razões por trás do processo da Revolução Portuguesa e do seu fim.
The film is presented much like one of Jacques Prévert’s inventories. Its title is inspired by the Pillow Book from the Japanese author Sei Shônagon, who in the first half of the 11th century was a lady- in-waiting to the Empress Teishi.
É uma bobina esquecida (a 6B) de My Seven Places que conta um dia na vida de Boris Lehman (como ele próprio diz, todos os dias são diferentes, mesmo quando parecem iguais). As cenas e encontros seguem-se uns aos outros, baseados no acaso e em caprichos.
Combinando a partitura de sopros distorcida do artista Martín Baus com imagens desfocadas em 16mm, Lungta coloca em primeiro plano a subestrutura material do processo fílmico enquanto invoca a história dos primeiros experimentos de Muybridge em cronofotografia.
Duas pombas brancas em relação espacial com dois espelhos, em jogos de multiplicação, vôos, bater de asas e detalhes da sua fisionomia. Um fragmento da palestra “Diplomacia das Plantas, ou na Dobra Vegetal” é lido por Michael Marder, e em torno das relações da diplomacia nas plantas. O filme propõe uma metamorfose entre o aparecimento das pombas brancas, símbolos da paz, com as asas dobradas sobre si mesmas, e as descrições do comportamento das plantas.
Videoclipe para “Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares.
Nuno Lisboa
Francisco Gonçalves
Regina Guimarães
Vasco Costa
Miranda Churio
Sara Orsi
Susana Valadas
Billy Woodberry
Garbiñe Ortega
Jacques Lemière
Joana Pimenta
José Manuel Costa
Marta Lança
Regina Guimarães
Teresa Castro